(continuação)
Imagem 4: FTB 337-G na BA2. |
Percurso em Portugal:
O esforço a que os Dornier Do-27
estavam a ser sujeitos na Guerra do Ultramar, muitos a operar desde 1961,
deixava prever que não aguentariam por muito mais tempo tão intensa actividade.
Nesta perspectiva, a Força Aérea Portuguesa (FAP), em 1973, começou a procurar
um avião para os substituir, num mercado praticamente limitado a franceses,
alemães e espanhóis, devido às restrições levantadas pela ONU à venda de
armamento a Portugal.
Neste panorama, a França acedeu à
venda de 32 aviões Reims-Cessna FTB-337G a Portugal. Os primeiros exemplares chegaram
a Portugal em Dezembro de 1974, portanto já depois de terminada a Guerra do
Ultramar. Foram transportados de França para Portugal em voo, por tripulações
portuguesas, chegando em pequenas quantidades, num processo que decorreu
durante quase um ano e meio.
Indicam-se a seguir as datas de
recepção, as matrículas FAP atribuídas e, entre parêntesis, os números de
construção correspondentes:
1974:
- 10 Dezembro: 3701 (0002), 3702
(0003) e 3703 (0004);
1975:
- 16 Janeiro: 3704 (0005), 3705
(0006) e 3706 (0007);
- 6 Fevereiro: 3707 (0008), 3708
(0009) e 3709 (0010);
- 11 Março: 3710 (0011), 3711
(0012) e 3712 (0013);
- 8 Abril: 3713 (0014), 3714
(0015), e 3715 (0016);
- 16 Maio: 3716 (0017), 3717
(0018) e 3718 (0019);
- 11 Junho: 3719 (0020), 3720
(0021) e 3721 (0022);
- 10 Julho: 3722 (0023), 3723
(0024), 3724 (0025), 3725 (0026), 3726 (0027) e 3727 (0028);
- 19 Novembro: 3728 (0029), 3729
(0030) e 3730 (0031);
1976:
- 11 Março: 3731 (0032) e 3732
(0033).
Os Reims-Cessna FTB-337G foram recebidos na Base Aérea N° 3 (BA3), Tancos, mas depressa foram distribuídos por outras bases.
Em 1975 é constituída a Esquadra
22 na Base Aérea N° 2 (BA2), Ota, que é equipada com 16 FTB-337G. Em 1976 é
formada a Esquadra 72 na Base Aérea N° 7 (BA7), S. Jacinto, equipada com 8
FTB-337G.
Os restantes aviões receberam
tratamento anti-corrosão e foram armazenados.
Imagem 5: Emblema da Esquadra 702, original e definitivo, respectivamente. |
Da reestruturação da FAP,
ocorrida entre 1977 e 1978 resultou a “despromoção” da BA7 para Aeródromo de
Manobra N° 2 (AM2), passando a Esquadra 72 a ser designada por Esquadra 702,
tendo como missão primária a ligação e transporte, reconhecimento visual e
fotográfico e evacuação sanitária. Como missão secundária tinha a manutenção do
treino mínimo de voo aos pilotos em funções fora das esquadras de voo.
Imagem 6: Linha da Frente dos FTB-337G, BA2. |
Na BA2, a Esquadra 22 recebeu a
nova designação de Esquadra 701, sendo-lhe atribuídas as mesmas missões da
Esquadra 702. Em 1979 é-lhe retirado um reduzido número de aviões, que são
entregues à Esquadra 101 da mesma Unidade, equipada com Chipmunk, que tinha a
seu cargo a instrução elementar de pilotagem. A utilização dos FTB na instrução
básica de pilotos foi uma solução temporária, a fim de aliviar os Cessna T-37C
da BA1 durante um pequeno período, findo o qual os aviões regressaram novamente
à Esquadra 701.
Imagem 7: Emblema da Esquadra 101. |
Imagem 8: Emblema da Esquadra 701, original e definitivo, respectivamente. |
Em Abril de 1990 é extinta a
Esquadra 702 e a Esquadra 701 é transferida para a BA1, Sintra, passando a
dispor de 12 aviões.
Uma Portaria de 1994 determina
que a Esquadra 701 passe a ser designada por Esquadrilha 505, intitulada de
“Jacarés”, alargando o âmbito da missão de transporte aéreo geral aos outros
ramos das forças armadas. Compete-lhe também a formação e treino dos
Observadores Aéreos do Exército. Mantém-se na BA1 com 12 aviões Reims-Cessna
FTB-337G no seu efectivo.
Imagem 9: Emblema da Esquadra 505. |
É também em 1994 que as
matrículas são alteradas, cabendo-lhes a numeração de 13701 a 13732.
A originalidade da propulsão por
um hélice dianteiro, “que puxa” e outro traseiro, “que empurra”, é motivo para
serem conhecidos na gíria do pessoal da FAP pelos “puxa-empurra”. Outros, mais
sofisticados, chamam-lhe “monomotores de duplo efeito”.
Alguns dos Reims-Cessna
excedentes foram vendidos e outros cedidos a aero-clubes.
Em meados de 1997 a Esquadrilha
505 passa a designar-se por Esquadra 505.
Quanto às pinturas e insígnias:
- Até 1980 estavam pintados em
verde-azeitona, com a secção em frente à cabina em preto anti-reflexo e as
superfícies inferiores em cinzento azulado. Apresentavam a Cruz de Cristo,
sobre círculo branco, no extra-dorso da asa esquerda, no intradorso da asa
direita e nos lados da fuselagem, em dimensão muito reduzida. As cores
nacionais, sem escudo, estavam colocados dentro de um rectângulo, nos lados
exteriores dos estabilizadores verticais. O número de matrícula encontrava-se a
preto em ambos os lados das asas, alternando com a insígnia, e também sobre o
rectângulo com as cores nacionais no estabilizador vertical;
- A partir de 1981 passaram a
usar a pintura em camuflado, em castanho (FS 30.219) e verde de duas
tonalidades (FS 34.079 e FS 34.102), com as superfícies inferiores em cinzento
claro (FS 36.622). A área pintada em cinzento é limitada em linha ondeada e, na
zona central da fuselagem, estende-se até às janelas.
A Cruz de Cristo, sobre círculo
branco com 37 cm de diâmetro, está colocada nos lados da fuselagem. A bandeira
nacional, sem escudo e com 30 cm de comprimento encontrava-se nas faces
superiores dos estabilizadores verticais. O número de matrícula encontra-se
sobre a bandeira nacional em algarismos pretos com 15 cm de altura. As
extremidades das pás dos hélices apresentam faixas amarelas (FS 33.538), em
ambos os lados, com 10 cm de largura. Apresentam ainda, nos fusos, duas
estreitas faixas vermelhas colocadas na direcção do hélice da retaguarda,
chamando a atenção para o perigo que representa.
Imagem 10: Pormenor da cauda de um FTB-337G, com o emblema da Esquadra 505, BA1. |
Os Reims-Cessna FTB-337G foram
abatidos ao serviço da FAP em 2007.
No âmbito da cooperação militar entre Portugal e Moçambique foi iniciado um projecto de recuperação de dois Reims-Cessna FTB-337G ( números 13729 e 13713) na BA1. Foi efectuado o IRAN (Inspect And Repair As Necessary) completo, pintura integral com nova pintura original, manutenção e voos de experiência, até à aprovação final. Foram cumpridas 50 Ordens Técnicas da Cessna e da Continental e executadas mais de 100 cartas de trabalhos adicionais, totalizando mais de 2000 horas / homem de trabalho. Este tipo de intervenção permite iniciar um segundo ciclo de vida nestas aeronaves, totalmente reabilitadas, prontas para desempenhar missões com garantias de fiabilidade, qualidade e segurança.
O FTB número 13729 foi entregue à Força Aérea de Moçambique em Janeiro de 2011, e o número 13713 em 29 de Maio de 2012, transportados para Moçambique a bordo de um C-130 da FAP.
No âmbito da cooperação militar entre Portugal e Moçambique foi iniciado um projecto de recuperação de dois Reims-Cessna FTB-337G ( números 13729 e 13713) na BA1. Foi efectuado o IRAN (Inspect And Repair As Necessary) completo, pintura integral com nova pintura original, manutenção e voos de experiência, até à aprovação final. Foram cumpridas 50 Ordens Técnicas da Cessna e da Continental e executadas mais de 100 cartas de trabalhos adicionais, totalizando mais de 2000 horas / homem de trabalho. Este tipo de intervenção permite iniciar um segundo ciclo de vida nestas aeronaves, totalmente reabilitadas, prontas para desempenhar missões com garantias de fiabilidade, qualidade e segurança.
O FTB número 13729 foi entregue à Força Aérea de Moçambique em Janeiro de 2011, e o número 13713 em 29 de Maio de 2012, transportados para Moçambique a bordo de um C-130 da FAP.
O Museu do Ar possui esta aeronave no seu espólio.
Fontes (segunda parte):
- Imagens 4, 6 e 10: © Carlos Pedro - Blog Altimagem;
- Imagens 5, 7, 8 e 9 e Texto: "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000;
- Texto em itálico (resumido): Revista da Força Aérea Portuguesa "Mais Alto" número 398, de Julho / Agosto de 2012, Estado-Maior da Força Aérea, Alfragide.
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