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10 março 2013

Supermarine Spitfire (segunda parte)

(continuação)

Ver  Supermarine Spitfire (primeira parte)

Imagem 5


Percurso em Portugal:

a.       Aeronáutica Militar
          A luta da diplomacia portuguesa para que a Grã-Bretanha fornecesse aviões Supermarine Spitfire ao abrigo do acordo para a utilização da Base das Lajes, Açores, foi dura, longa e sistematicamente protelada até 1942.
           A primeira remessa de Spitfire constou de 18 aviões na versão Mk Ia, recebidos entre Novembro de 1942 e Outubro de 1943 em Lisboa, por via marítima. Todos estes aviões foram construídos na Grã-Bretanha pela Supermarine, entre Setembro de 1939 e Dezembro de 1940.
Foram montados nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), Alverca, e colocados na Base Aérea N° 3 (BA3), Tancos, onde formaram a Esquadrilha XZ. (ver imagem de perfil da aeronave em Supermarine Spitfire - primeira parte ).

A Aeronáutica Militar (AM) atribuiu-lhes a numeração de 370 a 387. Não existem dados concretos quanto à correspondência dos números de série com a numeração da AM, supondo-se que foi atribuída segundo a ordem de chegada. O único dado concreto são as raras fotografias da época, onde se podem ver pintadas na fuselagem as numerações da RAF e da AM. A utilização destes aviões criou grande expectativa em Tancos, onde se reuniram os pilotos de caça mais experientes. Embora fossem da primeira série de fabrico – largamente ultrapassados pelos Mk V que os britânicos então utilizavam – e já com bastante uso, eram muito superiores aos Curtiss P-36 Mohawk.

Os primeiros dez aviões, recebidos entre 21 de Novembro de 1942 e 20 de Janeiro de 1943, face ao material disponível, foram, durante alguns meses, os únicos defensores do espaço aéreo nacional continental, função muito ingrata para tão reduzido número de aviões quando se estava em plena II Guerra Mundial, com probabilidades de e verificar uma invasão por parte das Forças do Eixo.
Os 18 Spitfire Mk Ia da AM, preparados para o clima mais frio da Grã-Bretanha, apresentaram problemas de aquecimento dos motores. Estando na altura em estudo um reforço dos Gloster Gladiator baseados nos Açores, estes Spitfire foram indicados para seguir para o arquipélago, de clima mais aproximado ao britânico. A deslocação não se concretizou, dado que as Forças Britânicas estacionadas na Base das Lajes assumiram, na prática, a defesa aérea do arquipélago.

Entretanto, o Governo Português continuou a pressionar o Governo Britânico para fornecer mais Spitfire, insistindo no modelo Mk V. Como fruto da sua persistência, os Spitfire Mk V começaram a chegar a Portugal entre Outubro de 1943 e Fevereiro de 1944, por via marítima, num total de 34 aviões, quase todos da versão Mk Vb. Destes, dois eram da versão Mk Vc, com combinação de armamento não standard, e sete da versão Mk VbLF, com a ponta das asas ”cortada”. Todos estes aviões, antes de serem enviados para Portugal, sofreram uma revisão na Grã-Bretanha, inclusive a adaptação para o nosso clima. Na sua maioria, tinham sido operados pelos americanos da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) baseados na Grã-Bretanha.

     A AM atribuiu-lhes a numeração de 1 a 34, inclusive. Tal como aconteceu na primeira remessa, não é possível estabelecer com exactidão a relação entre os números de série da RAF e a numeração da AM. Estes 34 aviões foram colocados na Base Aérea da Ota. Os números de 1 a 15 formaram a Esquadrilha RL e os restantes a Esquadrilha MR. (ver imagem de perfil da aeronave em Supermarine Spitfire - primeira-parte )

Imagem 6: Spitfire Mk. Vb da Esquadrilha RL
Cortesia de  http://digitalhangar.blogspot.pt 

     Por Portaria de 18 de Julho de 1944, é criado na Base da Ota o Grupo de Esquadrilhas de Aviação de Caça (GEAC), composto pelas Esquadrilhas N° 1, a MR, a N° 2, a RL (ver Imagem 6) e a N° 3, a XZ, com os Spitfire Mk Ia, na altura transferida de Tancos para a Ota. (ver imagem de perfil da aeronave em Supermarine Spitfire - primeira parte ).

Em Outubro de 1945 o Governo Britânico sugere a cedência de 120 Spitfire do modelo Mk IX, que Portugal recusa, preferindo adquirir mais do modelo existente, o Spitfire Mk Vb.

A recepção da terceira e última remessa de Spitfire Mk VbLF, constituída por 60 aviões transportados em voo, teve início em Abril de 1947 e prolongou-se até Janeiro de 1948. Originalmente das versões Mk VbF e Mk VbLF, foram todos beneficiados na Grã-Bretanha, ao mesmo tempo que os Mk VbF foram convertidos em Mk VbLF, com motores Rolls-Royce Merlin 45M, 50M e 55M. Três destes aviões vinham configurados como caça-bombardeiros. A AM deu-lhes os números na continuação da numeração anterior, de 35 a 94 inclusive. A relação entre os números de série e as matrículas da AM mantém-se indecifrável, como anteriormente.

Estes aviões foram distribuídos pelas Esquadrilhas MR e RL, como reforço e reposição dos acidentados ou retirados de serviço. A Esquadrilha ZE também recebeu alguns, operando-os em conjunto com os Gladiator, AT-6 e Miles Magister.
Em 1948 dá-se início ao processo de abate dos Spitfire Mk Ib, com a consequente extinção da Esquadrilha XZ.

Em Abril de 1952 o GEAC da BA2 dispunha de 74 Spitfire Mk Vb e Mk VbLF.
Nesse mesmo mês são transferidos para a BA3, Tancos, 50 destes aviões – assim como alguns Gladiator – os quais constituiram a Esquadrilha N°1, com 16 caças, a N°2, com 17, e a N°3, com 17. Um reduzido númerode Spitfire permaneceu na BA2. Por esta altura foi abandonado o esquema de organização da RAF e adoptado o da USAF, sendo abolida a designação das esquadrilhas por letras, passando a ser designadas por números.

Durante a segunda metade dos anos quarenta, com tão numerosa frota de Supermarine Spitfire, aos quais se juntaram 140 caça-bombardeiros Hawker Hurricane, Portugal dispôs de um respeitável poder aéreo, jamais igualado, pelo menos em quantidade.

Quanto à pintura, todos os Spitfire mantiveram a camuflagem usada nos caças diurnos da RAF, com as superfícies superiores em cinzento e verde escuros e as inferiores em cinzento claro ou azul-céu. Em ambos os lados das asas ostentavam a Cruz de Cristo sobre círculo branco. Nos lados da fuselagem apresentavam a Cruz de Cristo, sem círculo branco, ladeada pelas duas letras da esquadrilha (estas sempre para o lado da cabina) e pela letra da ordem na mesma, pintadas a branco. Os números de matrícula, em pequenos algarismos brancos, encontravam-se colocados na parte lateral inferior da fuselagem, quase por baixo dos estabilizadores horizontais. Em ambos os lados do estabilizador vertical, um rectângulo continha as cores nacionais, sem escudo.

     Os Spitfire apresentavam, para além das letras que os identificavam com as esquadrilhas a que pertenciam, as “cores de esquadrilha”. Os aviões da Esquadrilha MR apresentavam o cubo do hélice em amarelo e uma faixa da mesma cor na fuselagem, imediatamente à frente do número de matrícula. Na Esquadrilha RL estas pinturas eram em azul, e na Esquadrilha ZE em vermelho. Os aviões da Esquadrilha XZ não tinham a faixa na fuselagem, unicamente o cubo do hélice em azul-celeste.

Imagem 7: Spitfire VbLF da Esquadrilha ZE
Cortesia de  http://digitalhangar.blogspot.pt

     Os primeiros dez Spitfire, recebidos entre 21 de Novembro de 1942 e 20 de Janeiro de 1943, só apresentaram as letras da esquadrilha a partir de Abril de 1943. Refere-se também a singularidade das letras de ordem do Spitfire número 49 que, enquanto esteve colocado na Esquadrilha MR, apresentava dois G como letra de ordem na mesma (MR+GG). Foi o único avião a que esta modalidade foi aplicada, não sendo evidente o motivo.


Imagem 8: SUPERMARINE SPITFIRE Vb - Emissão especial dos CTT CORREIOS
(BPC-215), comemorativa dos 75 anos da Arma de Aeronáutica, 1 de Julho de 1999.
Desenho de M. Rodrigues Costa.


     b.      Força Aérea

         A Lei 2055 de 27 de Maio de 1952 cria a Força Aérea Portuguesa (FAP) e extingue a Aeronáutica Militar e a Aviação Naval.
         A quantidade de Spitfire transferidos para a FAP foi muito escassa. Em informação dirigida ao Ministro da Defesa Nacional em 20 de Julho de 1954, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA) refere que “ainda existem pilotos a voar em Spitfire”. Em 4 de Agosto desse ano o Ministro da Defesa determina que todos os Spitfire e Hurricane sejam transferidos para a Base Aérea N°1 (BA1), Sintra, até ao esgotamento do seu potencial de voo, em missões de instrução de pilotos.
            A partir de 1952, e antes da proibição da sua recuperação, os Spitfire, conforme iam fazendo as grandes revisões nas OGMA, alteravam o esquema de pintura anterior, passando as superfícies superiores para verde-azeitona e as inferiores para cinzento-céu. Ostentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, no extradorso da asa esquerda, no intradorso da asa direita e nos lados da fuselagem. As cores nacionais, sem escudo, estavam colocadas em rectângulo nos lados do estabilizador vertical. Os números de matrícula apareciam unicamente no estabilizador vertical, sobre as cores nacionais, em algarismos brancos.

Imagem 9: Spitfire VbLF da FAP
Cortesia de  http://digitalhangar.blogspot.pt

            O último registo de que há conhecimento refere que o Spitfire número 49 realizou o último voo em 1 de Março de 1955, o que, no entanto, não garante que tenha sido o último voo dos magníficos “Spit” em Portugal.

            Lamentável é o facto de não se ter preservado para a posteridade um único dos muitos Spitfire Mk V que operaram em Portugal. 
     O Museu do Ar tem em exposição um Supermarine Spitfire Mk IX, um modelo não utilizado em Portugal, cedido pela República da África do Sul.




Fontes (segunda parte):
Imagem 5: FAP / AHFA - Força Aérea Portuguesa / Arquivo Histórico da Força Aérea;
Imagens 6, 7 e 9: Cortesia de Paulo Alegria - Blog Digital Hangar;
Imagem 8: Colecção  Altimagem;
Texto: "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000.

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