Imagem 1 |
Viagem Lisboa - Rio de Janeiro
a. Tripulação:Piloto - capitão-tenente Sacadura Cabral
Navegador - capitão-de-mar-e-guerra Gago Coutinho
b. Data:
Inicial - 30 de Março de 1922
Final - 17 de Junho de 1922
c. Aeronaves:
- De 30 de Março a 18 de Abril: Hidroavião monomotor «Fairey III-D Transatlantic» de 350 hp, baptizado de «Lusitânia»;
- 11 de Maio: Hidroavião monomotor «Fairey III-D», (baptizado de «Pátria», «Portugal» ou
«Lusitânia II», segundo diversas fontes);
- De 5 de Junho a 17 de Junho: Hidroavião monomotor «Fairey III-D», baptizado de «Santa Cruz».c. Tempo voado:
62h 26m
d. Distância:
4.527 milhas marítimas ou 8.383 Km
e. Escalas:
Las Palmas - Gando - S. Vicente - S. Tiago - Penedos de S. Pedro e S. Paulo - Fernando de Noronha -
Recife - Baía - Porto Seguro - Vitória - Rio de Janeiro.
f. O «Lusitânia»
-Hidroavião de flutuadores, biplano, de revestimento misto (fuselagem em contraplacado e planos em tela, bilugar na versão Transatlantic, concebido para missões de bombardeamento e reconhecimento aéreo.
- Motor Rolls-Royce Eagle VII de 12 cilindros em V arrefecidos por líquido com 2 grandes radiadores colocados em ambos os lados da fuselagem, de 350hp.
- Hélice de madeira, de duas pás, de passo fixo.
- Envergadura: 19,17m Comprimento: 11,25m Altura: 3,98m Área alar: 65,10m2
- Peso vazio: 1.861 Kg Peso máximo: 3.242 Kg
- Velocidade máxima: 176 Km/h Velocidade de cruzeiro: 127 Km/h
- Razão de subida: 240 m/min. Tecto de serviço: 4570 m Raio de acção: 2.027 km
- Fabricante: Fairey Aviation Co. Ltd. / Grã-Bretanha
g. Os Pioneiros:
Capitão-Tenente da Aviação Naval, Arthur de Sacadura Freire Cabral
Imagem 2 |
Nasceu em Celorico da Beira em 23 de Abril de 1881. Após os
estudos primários e secundários assentou praça em 10 de Novembro de 1897 como
aspirante de marinha e frequentou a Escola Naval, onde foi o primeiro
classificado do seu curso. Terminado o curso seguiu, em 1901, a bordo do São
Gabriel, para a Divisão Naval de Moçambique, onde conheceu Gago Coutinho e onde
ambos fizeram levantamentos geográficos.
Em 1915 foi enviado para França para tirar o brevet de
piloto, que concluiu no ano seguinte. Na companhia de gago Coutinho e Ortins de
Bettencourt fez a ligação Lisboa-Funchal em 1921. Serviu nas colónias
ultramarinas no decurso da Primeira Guerra Mundial. Foi um dos primeiros
instrutores da Escola Militar de Aviação, director dos serviços de Aeronáutica
Naval e comandante de esquadrilha na Base Naval de Lisboa.
Unanimemente considerado um aviador distintíssimo pelas suas
qualidades de coragem e inteligência, notabilizou-se a nível mundial,
ultrapassando as insuficiências técnicas e materiais que na época se faziam
sentir. Quando conheceu, em África, Gago Coutinho, incentivou-o a dedicar-se ao
problema da navegação aérea, o que levou ao desenvolvimento do sextante de
bolha artificial. Juntos inventaram um "corrector de rumos" para compensar
o desvio causado pelo vento. Foi promovido a segundo-tenente em 27 de Abril de
1903, a primeiro-tenente a 30 de Setembro de 1911, a capitão-tenente em 25 de
Abril de 1918 e, por distinção, a Capitão-de-Fragata em 1922.
Faleceu a 15 de Novembro de 1924 num acidente aéreo durante
um voo de Amesterdão (Holanda) para Lisboa, pilotando um dos hidroaviões Fokker
T.III W destinado à volta ao mundo, que ele pensava tentar na companhia de Gago
Coutinho. O seu corpo nunca foi encontrado.
Capitão-de-Mar-e-Guerra da Aviação Naval, Carlos Viegas Gago Coutinho
Imagem 3 |
Nasceu em Belém, Lisboa, em 17 de Fevereiro de 1869. De família humilde, não pôde frequentar, como desejava, o curso de Engenharia na Alemanha e ingressou, aos 17 anos, na Marinha Portuguesa, tendo terminado o curso da Escola Naval em 1888. Cedo se distinguiu como cartógrafo, geógrafo e astrónomo, tendo efectuado várias missões nas colónias portuguesas de África e Ásia.
Distinguiu-se como cartógrafo e geógrafo a partir de 1898,
aquando de sua primeira comissão em Timor. Até 1920 levantou e cartografou não
apenas aquele território, mas também o de Niassa (1900), Congo (1901), Zambézia
(1904-1905), Barotze (1912-1914), São Tomé e Príncipe (1916), estabelecendo
vértices geodésicos e determinando coordenadas em missões científicas onde
conseguia precisões notáveis, devido ao seu rigor e dedicação à missão que lhe
fora confiada. Respondeu igualmente pela delimitação definitiva da parte norte da fronteira
entre Angola e Zaire.
No decurso destes trabalhos fez a pé a travessia da África,
onde conheceu Sacadura Cabral. Este incentivou-o a dedicar-se ao problema da
navegação aérea, o que levou ao desenvolvimento do sextante de bolha
artificial, posteriormente comercializado pela empresa alemã Plath com o nome
"Sistema Gago Coutinho". Juntos inventaram ainda um "corrector
de rumos" (o "plaqué de abatimento") para compensar o desvio
causado pelo vento. Para testar essas ferramentas de navegação aérea, realizaram
em 1921 a travessia aérea entre Lisboa e Funchal.
Assim preparados, em 1922, no contexto das comemorações do
centenário da Independência do Brasil, os dois aviadores realizaram aprimeira
travessia aérea do Atlântico Sul, sendo recebidos entusiasticamente em várias
cidades do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo,Recife), bem como no regresso a
Portugal.
Gago Coutinho recebeu largo reconhecimento devido a este
feito, tendo sido promovido a contra-almirante e condecorado com as mais altas
e prestigiosas distinções do Estado Português, além de ter recebido várias
outras condecorações estrangeiras. Retirou-se da vida militar em 1939.
Em 31 de Março de 1955, a convite da TAP, fez parte de um
voo experimental ao Rio de Janeiro num DC-4, antecipando a futura linha regular
que se estabeleceria em 1961.
A partir de 1925 dedicou-se à História Náutica, tendo
desenvolvido vasta obra de investigação científica, publicando significativa
variedade de trabalhos geográficos e históricos, principalmente acerca das navegações
portuguesas, como, por exemplo, "O Roteiro da Viagem de Vasco da Gama"
e a sua versão de "Os Lusíadas". Vários de seus trabalhos
encontram-se compilados na "Náutica dos Descobrimentos".
Em 1958 recebe a última homenagem: Por proposta da
Assembleia Nacional foi promovido de Vice-Almirante a Almirante, patente que
nenhum outro oficial da Armada havia alcançado nos tempos modernos. Faleceu a
18 de Fevereiro de 1959, com 90 anos de idade.
h. A viagem:
Imagem 5 |
No dia 30 de Março de 1922 saíram de Lisboa, junto à Torre Belém. Depois de um voo sem incidentes, os aviadores avistam a ponta Norte de Tenerife (Ilhas Canárias) às 14h e 57m TMG e amaram em Las Palmas, no Porto de La Cruz. Estava vencida a 1ª etapa, num percurso de 703 milhas feito em 8h e 37m de voo. Dadas as más condições do porto de La Cruz para levantar voo no hidro carregado, resolveram os aviadores escolher a Baía de Gando para a largada da próxima etapa.
Assim, numa curta 2ª etapa, saíram de Las Palmas no dia 2 de Abril para a Baía de Gando, percorrendo 15 milhas em 21 minutos.
Depois das necessárias reparações ao «Lusitânia», partiram no dia 5 de Abril para a 3ª etapa no percurso Gando - São Vicente de Cabo Verde, percorrendo 849 milhas em 10h e 43m de voo, à velocidade média de 150 Km/h.
Aí permaneceram até 17 de Abril para beneficiação do aparelho. Nesse dia partiram da Ilha de São Vicente rumo à Ilha de Santiago (Cabo Verde) numa curta 4ª etapa de 170 milhas com a duração de 2h e 15m.
No dia seguinte, a 18 de Abril às 5 horas e 55 minutos, com 255 galões de gasolina e previsão de 12h de voo, partem de Santiago rumo aos Penedos de S. Pedro e S. Paulo (Brasil), iniciando assim a
5ª etapa, onde percorreram 908 milhas em 11h e 20m. À chegada aos Penedos esperava-os o cruzador «República», para dar o respectivo apoio. Ao fazerem a aproximação ao barco a crista de uma vaga com cerca de 15m de altura parte um dos flutuadores do «Lusitânia». Recolhidos pelo vaso de guerra, viram perder-se no fundo do mar o «Lusitânia», de pois de se ter partido o 2º flutuador.
Devido ao entusiasmo despertado pela viagem, o Ministro da Marinha, comandante Vítor Hugo de Azevedo Coutinho decidiu prosseguir com a expedição, com a concordância total do Governo. Assim, foi enviado um hidroavião idêntico, o «Pátria», que seguiu a bordo do paquete brasileiro «Bagé», acompanhado pelo tenente aviador Ortins Bettencourt e pessoal mecânico, com destino à Ilha Fernando de Noronha, para onde seguiram, de barco, os aviadores.
Em 11 de Maio iniciam a 6ª etapa. Partem no «Pátria» de regresso aos Penedos a fim de seguirem viagem no ponto onde tinham amarado. Depois de sobrevoar os Penedos para reiniciar a viagem interrompida, foi obrigado a uma amaragem de emergência depois de percorrer 480 milhas em 6h e 34m. Depois de naufragarem durante 9 horas, os aviadores foram resgatados pelo cargueiro inglês «Paris City». Deste último hidroavião, já muito danificado pela ondulação, só se conseguiu salvar o motor.
Seguiu-se um período de espera até 5 de Junho, data em que a bordo do navio «Carvalho Araújo» foi enviado outro Fairey III D, este baptizado de «Santa Cruz».
No dia 5 de Junho iniciam a 7ª etapa, rumo ao Recife, numa distância de 300 milhas e 4h e 32m de voo.
No dia 8 de Junho iniciam a 8ª etapa rumo à Baía, numa distância de 380 milhas e 5h e 30m de voo.
No dia 13 de Junho saem da baía rumo a Porto Seguro para cumprir a 9ª etapa, num total de 212 milhas e 4h e 03m de voo.
No dia 15 de Junho saem de Porto Seguro com destino a Vitória, cumprindo 10ª etapa, num total de 260 milhas e 3h e 40m de voo.
Assim, numa curta 2ª etapa, saíram de Las Palmas no dia 2 de Abril para a Baía de Gando, percorrendo 15 milhas em 21 minutos.
Depois das necessárias reparações ao «Lusitânia», partiram no dia 5 de Abril para a 3ª etapa no percurso Gando - São Vicente de Cabo Verde, percorrendo 849 milhas em 10h e 43m de voo, à velocidade média de 150 Km/h.
Aí permaneceram até 17 de Abril para beneficiação do aparelho. Nesse dia partiram da Ilha de São Vicente rumo à Ilha de Santiago (Cabo Verde) numa curta 4ª etapa de 170 milhas com a duração de 2h e 15m.
No dia seguinte, a 18 de Abril às 5 horas e 55 minutos, com 255 galões de gasolina e previsão de 12h de voo, partem de Santiago rumo aos Penedos de S. Pedro e S. Paulo (Brasil), iniciando assim a
5ª etapa, onde percorreram 908 milhas em 11h e 20m. À chegada aos Penedos esperava-os o cruzador «República», para dar o respectivo apoio. Ao fazerem a aproximação ao barco a crista de uma vaga com cerca de 15m de altura parte um dos flutuadores do «Lusitânia». Recolhidos pelo vaso de guerra, viram perder-se no fundo do mar o «Lusitânia», de pois de se ter partido o 2º flutuador.
Devido ao entusiasmo despertado pela viagem, o Ministro da Marinha, comandante Vítor Hugo de Azevedo Coutinho decidiu prosseguir com a expedição, com a concordância total do Governo. Assim, foi enviado um hidroavião idêntico, o «Pátria», que seguiu a bordo do paquete brasileiro «Bagé», acompanhado pelo tenente aviador Ortins Bettencourt e pessoal mecânico, com destino à Ilha Fernando de Noronha, para onde seguiram, de barco, os aviadores.
Em 11 de Maio iniciam a 6ª etapa. Partem no «Pátria» de regresso aos Penedos a fim de seguirem viagem no ponto onde tinham amarado. Depois de sobrevoar os Penedos para reiniciar a viagem interrompida, foi obrigado a uma amaragem de emergência depois de percorrer 480 milhas em 6h e 34m. Depois de naufragarem durante 9 horas, os aviadores foram resgatados pelo cargueiro inglês «Paris City». Deste último hidroavião, já muito danificado pela ondulação, só se conseguiu salvar o motor.
Seguiu-se um período de espera até 5 de Junho, data em que a bordo do navio «Carvalho Araújo» foi enviado outro Fairey III D, este baptizado de «Santa Cruz».
No dia 5 de Junho iniciam a 7ª etapa, rumo ao Recife, numa distância de 300 milhas e 4h e 32m de voo.
No dia 8 de Junho iniciam a 8ª etapa rumo à Baía, numa distância de 380 milhas e 5h e 30m de voo.
No dia 13 de Junho saem da baía rumo a Porto Seguro para cumprir a 9ª etapa, num total de 212 milhas e 4h e 03m de voo.
No dia 15 de Junho saem de Porto Seguro com destino a Vitória, cumprindo 10ª etapa, num total de 260 milhas e 3h e 40m de voo.
Imagem 6 |
Finalmente, no dia 17 de Junho de 1922 fazem a derradeira 11ª e última etapa, ligando Vitória ao Rio de Janeiro. Depois de percorrerem uma distância de 250 milhas, com 4h e 50m de voo, amararam no Guanabara, em frente da Ilha das Enxadas, onde estavam os hangares da Aviação Marítima Brasileira, às 14 horas e 22 minutos de um dia chuvoso.
A bordo da aeronave, já desamarrados e de pé, Sacadura Cabral e Gago Coutinho içaram uma bandeira do Brasil e deram uma salva de 21 tiros da ordenança, com a pistola de sinais luminosos, alternando entre as cores verde e vermelho.
Naquela tarde o Atlântico deixou de existir, abolindo as fronteiras naturais de água viva e revolta entre Portugal e Brasil.
(De destacar que o Relatório de Gago Coutinho, sobre esta viagem, está registado na Memória do Mundo da UNESCO, como Património da Humanidade, desde 2011).
Fontes:
Imagens 1, 5 e 6: EMFA / AHFA - Estado Maior da Força Aérea / Arquivo Histórico da Força Aérea;
Imagem 2: Blog Centro Cultural Luso Brasileiro
Imagem 3: Blog Fernando Machado
Imagem 4: "História da Força Aérea Portuguesa", de Edgar Pereira da Costa Cardoso, coronel piloto aviador, volume II, página 125, Edição Cromocolor, 1981.
Texto: Idem, "História da Força Aérea Portuguesa";
"Aeronaves militares portuguesas no século XX", de Adelino Cardoso, Edição Essencial, 2000;
Revista "Domingo", edição "Correio da Manhã" número 11.978, de 25 de Março de 2012.
A bordo da aeronave, já desamarrados e de pé, Sacadura Cabral e Gago Coutinho içaram uma bandeira do Brasil e deram uma salva de 21 tiros da ordenança, com a pistola de sinais luminosos, alternando entre as cores verde e vermelho.
Naquela tarde o Atlântico deixou de existir, abolindo as fronteiras naturais de água viva e revolta entre Portugal e Brasil.
(De destacar que o Relatório de Gago Coutinho, sobre esta viagem, está registado na Memória do Mundo da UNESCO, como Património da Humanidade, desde 2011).
Fontes:
Imagens 1, 5 e 6: EMFA / AHFA - Estado Maior da Força Aérea / Arquivo Histórico da Força Aérea;
Imagem 2: Blog Centro Cultural Luso Brasileiro
Imagem 3: Blog Fernando Machado
Imagem 4: "História da Força Aérea Portuguesa", de Edgar Pereira da Costa Cardoso, coronel piloto aviador, volume II, página 125, Edição Cromocolor, 1981.
Texto: Idem, "História da Força Aérea Portuguesa";
"Aeronaves militares portuguesas no século XX", de Adelino Cardoso, Edição Essencial, 2000;
Revista "Domingo", edição "Correio da Manhã" número 11.978, de 25 de Março de 2012.
Sem comentários:
Enviar um comentário