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18 novembro 2012

Junkers Ju-52 / 3m (primeira parte)

Imagem 1

JUNKERS Ju-52 / 3m

Quantidade: 27
Utilizador: Aeronáutica Militar e Força Aérea
Entrada ao serviço: Janeiro de 1937
Data de abate: 1972


Dados técnicos: (versão Ju-52/3m ge)

a.      Tipo de Aeronave

        Avião trimotor terrestre, de trem de aterragem convencional fixo, asa baixa com lemes e flaps destacados, revestimento totalmente metálico em chapa corrugada, cabina integrada na fuselagem , destinado a  transporte comercial e militar. Tripulação: 5 (2 pilotos, navegador-bombardeiro, rádio-operador-metralhador e mecânico-metralhador.)

b.      Construtor

        Junkers Flugzeug und Motorenwerke A. G. / Alemanha.
        Sob licença:          Ateliers Aéronautiques de Colombes (A.A.C.) / França;
                                       Construcciones Aeronáuticas, S. A. (CASA) / Espanha ;
                                       Desconhecido / Noruega.

c.       Motopropulsor

        Motor: 3 motores BMW 132A-1 de 9 cilindros radiais arrefecidos por ar, desenvolvendo 660 hp (estes motores eram Pratt & Witney Hornet S4-D2 fabricados na Alemanha sob licença dos Estados Unidos).
        Hélices: Metálicos, de duas pás, de passo ajustável no solo.

d.      Dimensões

        Envergadura …………....29,31 m
        Comprimento…..…….….18,90 m
        Altura………….……...……4,52 m
        Área alar ……….….……110,55 m²

e.      Pesos

        Peso vazio……………..…5.700 kg
        Peso máximo……………..9.510 kg

f.        Performances

        Velocidade máxima ……..290 Km/h
        Velocidade de cruzeiro .…250 Km/h
        Tecto de serviço ……...6.000 m
        Raio de acção …………1.770 Km

g.      Armamento

        Defensivo: 1 metralhadora 7,92 mm instalada no posto dorsal;
        1 metralhadora 7,92 mm instalada no posto ventral retráctil;
        Ofensivo: 1.500 Kg de bombas.

h.      Capacidade de transporte

        17 passageiros ou pára-quedistas;
        ou 1.500 Kg de carga.



Imagem 2

Resumo histórico:
            Muitos dos grandes aviões militares usados na II Guerra Mundial tiveram a sua origem em aviões de transporte comercial dos primeiros anos da década de 1930. É o caso do célebre Junkers Ju-52/3m, desenhado pelo engenheiro alemão Ernst Zindel (1897-1978).
            Em 13 de Outubro de 1930 voou pela primeira vez o protótipo do mono-motor Junkers Ju-52, destinado a transporte comercial. Era um avião de grandes dimensões, que se mostrou inadequado para voar com um único motor. Construíram-se apenas cinco exemplares.

          O projecto continuou com a aplicação de três motores, de que resultou o Junkers Ju-52/3m. O protótipo, utilizando a fuselagem do Ju-52 com o número de construção 4007, realizou o primeiro voo nos primeiros dias de Abril de 1931, com sucesso, começando imediatamente a produção, na versão de transporte comercial. Os dois primeiros aviões produzidos receberam a designação de Ju-52/3m, tinham os números de construção 4008 e 4009 e foram entregues em 1932 à empresa de transporte aéreo Lloyd Aéreo Boliviano.
            O Ju-52/3m era um avião tri-motor revestido com a característica chapa corrugada da Junkers, anguloso, lento e feio, mas muito seguro, que acabaria por se tornar famoso. Sendo essencialmente um avião terrestre, permitia a adaptação a hidroavião de flutuadores e ao uso de skis.
            Entre 1932 e 1934 foram construídos cerca de 200 aviões na versão civil, que equiparam as principais companhias de aviação comercial da Europa. A Deutsche Lufthansa começou a operá-los em 1932. Bateu vários recordes mundiais, tais como o transporte de maior quantidade de carga a maior distância, o voo a maior altitude para o tipo de aeronave, etc, etc.

          Dado que o Tratado de Armistício da I Guerra Mundial proibia que a Alemanha construísse qualquer tipo de material de guerra, incluindo aviões, os alemães instalaram uma fábrica na Suécia onde, secretamente, desenvolveram os estudos para adaptar o Ju-52/3m a bombardeiro, cujo protótipo realizou o primeiro voo em Maio de 1932. A produção destinada a fins militares teve início em 1934. Das diversas versões foram produzidas 4.835 unidades.

         A primeira versão militar produzida em larga escala foi a designada por Ju-52/3m ge, que entrou ao serviço da Luftwaffe (Força Aérea Alemã) em 1934. Os aviões desta versão, que iniciou com o número de construção 4035, utilizavam motores BMW 132A-1, de 660 hp, estavam equipados para operar com más condições meteorológicas e preparados para missões de transporte diverso (material, entidades, feridos, doentes e largada de tropas).
            Mais tarde, devido à demora na entrada ao serviço do avião bombardeiro Dornier Do-11, os Ju-52/3m foram adaptados para executar missões de “bombardeiro auxiliar”. Para tal, foram construídos no interior da fuselagem seis compartimentos para transporte de bombas, colocadas na vertical. O armamento defensivo resumia-se a duas metralhadoras móveis MG-15 de calibre 7,9 mm, uma na posição dorsal, sem cobertura, e outra num posto ventral retráctil, que assomava por baixo da fuselagem, logo atrás do trem de aterragem - uma espécie de balde - absolutamente ineficaz, acabando por ser retirado nos últimos modelos.

           Em 1937 teve início a produção da versão Ju-52/3m g3e, equipada com motores BMW 132A-3, de 725 hp. Receberam os números de construção 5867 a 6047. Embora alguns investigadores refiram que esta versão foi especialmente concebida para bombardeamento, aparece geralmente referida como sendo uma versão de transporte multifunções, com equipamentos de radiocomunicações e rádio-navegação modernizados e dotada de mecanismo para lançamento de bombas, com capacidade para 1.100 Kg de bombas.
            Seguiram-se os Ju-52/3m g4e, que foram muito utilizados na Guerra Civil de Espanha, quer pelos Nacionalistas como pelos alemães da Legião Condor. Encontram-se raras referências de que alguns aviões desta versão foram equipados com uma torre de tiro dorsal inteiramente em vidro.
            Os Ju-52/3m g5e, de 1939, utilizavam motores BMW 132T-2, de 830hp, possuíam equipamento de degelo com ar aquecido pelos gases de escape e tinham a estrutura preparada para utilizar trem de aterragem de rodas, flutuadores ou skis. Esta versão apresentava-se com posto de tiro inferior - “balde” - retirado, o qual foi substituído por metralhadoras MG-15, de calibre 7,9 mm, montadas nas últimas janelas laterais da fuselagem.
            Paralelamente, foi produzida a versão Ju-52/3m g6e, a primeira que apresentou um painel entre o motor central e a cabina, e dispunha de equipamento de rádio muito simplificado. Ainda que os aviões desta versão se destinassem essencialmente a operações com base terrestre, alguns foram equipados com flutuadores. Das tarefas que lhes foram atribuídas, destaca-se a de detecção e destruição de minas marítimas, através de um enorme aro metálico suspenso na parte inferior do avião, o que lhe dava um aspecto invulgar.
            Em 1941 surgiram os aviões da versão Ju-52/3m g7e, que substituíram os das versões anteriores. Estavam equipados com motores BMW 132T-2, de 830 hp. Alguns destes aviões apresentaram, instalada sobre a cabina de pilotagem, uma torre de tiro em forma de “bolha” transparente, com uma metralhadora MG-15. Possuía uma grande porta de carga no lado direito da fuselagem.
            Os aviões da versão Ju-52/3m g8e, que operaram a partir de 1941, utilizavam motores BMW 132T, de 750 hp, dispunham de melhores instrumentos de voo, maior capacidade de carga e mantendo a grande porta de carga da versão anterior.
            Em meados de 1942 surgiram os aviões da versão Ju-52/3m g9e, com motores BMW de 830 hp, preparados para reboque de planadores.
A derradeira versão foi a dos Ju-52/3m g14e, que surgiram em 1943 e foram construídos até meados do ano seguinte, com placas de blindagem.

          As designações dos Ju-52/3m têm levantado alguma polémica, particularmente no que se refere à aplicação das letras “K” (Krieg -guerra) e “Z” (Zivil - civil). Estas letras eram aplicadas pelo fabricante aos aviões de exportação, diferenciando os aviões de uso militar e de uso civil, sem definir a versão. A própria Luftwaffe aplicou, a seguir à designação da versão, letras entre parêntesis, que identificavam o tipo de equipamento específico: (E) (Kistentransporter)-transporte; (F) (Fallschirmjager und Luftlandertrnsporter)-transporte de pára-quedista e de tropas aerotransportadas; (H) (Horsaalflugzeug)-instrução; (N) (Nachsubtransporter)-transporte de abastecimento; (S) (Sanitatsflugzeug)-transporte sanitário, etc.

          Antes do eclodir da II Guerra Mundial, em 1939, o Ju-52/3m foi testado em operações militares na Bolívia e, de forma muita severa e em quantidade significativa, na Guerra Civil de Espanha (1936 a 1939), como bombardeiro e transportador. Desencadeada a II Guerra Mundial, este lento tri-motor actuou em todas as frentes de combate, sendo considerado um avião “para todo o serviço”.
            A sua acção como “bombardeiro auxiliar”, depois de resolvidos alguns problemas técnicos, tornou-se importante, mas em breve estava ultrapassado por aviões modernos, mais velozes e melhor equipados. Passou então a ser utilizado exclusivamente em missões de transporte, tornando-se o “cordão umbilical” das tropas alemãs. Foi igualmente utilizado como ambulância aérea, rebocador de planadores e no transporte e lançamento de pára-quedistas.
            Os Ju-52/3m estiveram presentes nas invasões levadas a cabo pelos alemães. É muito provável que tenham sido os primeiros aviões a largar tropas pára-quedistas numa frente de batalha real, aquando da invasão da Noruega, no dia 9 de Abril de 1940. Foram muito importantes no abastecimento das tropas de Rommel no norte de África, que muito se ressentiram quando grande parte da frota foi desviada para a frente Russa.
            A guerra não foi fácil para a «Tia Ju» (Tante Ju), como o Ju-52/3m era afectuosamente tratado na Luftwaffe. Na invasão da Ilha de Creta - a primeira invasão do mundo a ser levada a efeito unicamente por tropas aerotransportadas - apesar da aviação alemã desfrutar de absoluta superioridade aérea, foram abatidos 271 Ju-52/3m. Quando, em 1942, a aviação dos Aliados adquiriu superioridade aérea, os Ju-52/3m, lentos e com fraco armamento, sofreram pesadas perdas. Muitos foram, também, destruídos no solo.
            Na Guerra Civil de Espanha tinham demonstrado ser muito vulneráveis à acção dos caças inimigos, pelo que necessitavam de uma boa escolta de caças. Um número apreciável de Ju-52/3m foi abatido pelos caças de fabrico soviético Polikarpov I-15 Super-Chato e I-16 Rata. Na Batalha de Brunete, dois Ju-52/3m em missão de bombardeamento nocturno foram abatidos por pilotos russos, tornando-se nos primeiros derrubes nocturnos da História.
            Durante os anos da ocupação alemã, os Junkers Ju-52/3m foram construídos em alguns dos países ocupados, como a Noruega e a França.

      Após o fim da guerra, os Ju-52/3m continuaram a ser construídos em Espanha pela Construcciones Aeronáuticas, S. A. (CASA), com a designação CASA C-352, que produziu 170 aviões na fábrica de Getafe (Madrid), encerrando o fabrico em Março de 1954.
            Em França foram construídos 400 exemplares pela Ateliers Aéronautiques de Colombes (A.A.C.), com a designação de Amiot A.A.C. 1 - Toucan.
Em 1947, os franceses usaram o Ju-52/3m capturados aos alemães na II Guerra Mundial, na Indochina (Vietname) e, mais tarde, os Toucan, na Argélia.

             Em 1997, a Deutsche Lufthansa executava voos turísticos de curta duração num Ju-52/3m equipado com motores Pratt & Witney R-1340 Wasp, utilizando o aeroporto de Berlim-Tempelhof. O avião encontrava-se pintado como os Ju-52/3m da Lufthansa dos anos trinta e ostentava a falsa matrícula D-AQUI, provavelmente a do primeiro Ju-52/3m da empresa. No entanto, a verdadeira matrícula era D-CDLH.

(continua)



Fontes (primeira parte):
Imagem 1: FAP / AHFA - Força Aérea Portuguesa / Arquivo Histórico da Força Aérea;
Imagem 2: Cortesia de  Richard Ferriere - 3 vues;
Texto: "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000.

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