(continuação)
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Percurso em Portugal: (continuação)
Em 8 de Outubro de 1956 foi constituída na BA6 a
Esquadra 62 (Imagem 5), com a recepção de nove PV-2C.
Em 1957 foram recebidos da Marinha Real Holandesa
alguns PV-2 que nunca se tornaram operacionais, provavelmente por serem de
série diferente, e que serviram de fonte de peças para os aviões existentes.
Este fornecimento tem estado na origem de algumas divergências entre os
investigadores, por alguns considerarem que todos os Harpoon recebidos em 1957
eram de origem holandesa, o que não é correcto.
Os PV-2 mantiveram a pintura inteiramente em azul
escuro. Ostentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, no extra-dorso da asa
esquerda, no intradorso da asa direita e em ambos os lados da fuselagem. A
bandeira nacional, sem escudo, estava colocada nos lados exteriores dos
estabilizadores verticais, num pequeno rectângulo. A matrícula era visível nas
asas, alternando com a insígnia, e ainda sobre a bandeira nos estabilizadores
verticais, em algarismos brancos.
No lado esquerdo da secção dianteira da fuselagem
encontrava-se pintado o respectivo distintivo da esquadra. Aviões de ambas as
esquadras tomaram parte em diversas missões de treino e em exercícios de âmbito
nacional e NATO, entre os quais o exercício que se desenvolveu no Mediterrâneo
entre 19 e 24 de Maio de 1958, onde o trabalho das tripulações dos PV-2C
portugueses foi merecedor de considerações muito prestigiantes.
Em Abril de 1959 seis PV-2 participaram no
exercício “Himba”, que constou na deslocação de diversos meios aéreos a Angola,
numa manifestação de soberania e força militar. Coube aos PV-2 demonstrarem o
seu poder de fogo, largando napalm, bombas de fragmentação e utilizando as
metralhadoras contra alvos simulados. Regressaram à metrópole a 1 de Maio desse
ano.
O efectivo de 18 aeronaves da Esquadra 61 e de 16 aeronaves da Esquadra 62 foi mantido até 1960, ano em que se agravaram os problemas de
manutenção, dada a dificuldade na obtenção de peças sobressalentes. Assim,
houve necessidade de retirar de serviço os aviões 4633 e 4634, a fim de serem
“canibalizados” e fornecerem peças aos restantes. Em Maio de 1964 os 4631 e
4632 seguiram o mesmo destino e, pouco depois, o 4618 e 4625 foram abatidos
para a sucata.
Provavelmente com o objectivo de aproveitar os
PV-2, depois de serem retirados das missões de luta anti-submarino, o 4604 e 0
4607 foram transformados em transporte de VIP’s. Foi retirado parte do
equipamento operacional e o armamento. Ao mesmo tempo foi modificada a pintura,
que passou a alumínio com o dorso a branco, com um filete azul escuro ao longo
da fuselagem. Os algarismos das matrículas passaram a preto. As insígnias
mantiveram-se de acordo com o padrão da FAP.
Tudo se encaminhava para que o ano de 1960 fosse
o da retirada de serviço destes aviões. Contudo, assim não aconteceu. Começava
a notar-se a instabilidade que haveria de conduzir à luta armada dos movimentos
independentistas nas Províncias Ultramarinas Portuguesas, desencadeada em Março
de 1961 em Angola e um ano mais tarde na Guiné e em Moçambique, obrigando a FAP
a transferir rapidamente meios aéreos capazes de enfrentar a situação.
Foi neste cenário que os PV-2 Harpoon foram
sujeitos, nas OGMA, às modificações essenciais para a nova missão de
bombardeiro táctico e apoio próximo, bem como para operar em clima tropical.
De uma forma geral, para além de cuidada revisão
às células e aos motores, estes trabalhos resumiram-se à desmontagem das torres
de tiro dorsal e ventral e à nova pintura em alumínio, com a metade superior da
fuselagem e o conjunto do estabilizador da cauda em branco, com um estreito
filete azul escuro ao longo da fuselagem a separar as cores. A insígnia estava
circundada por um fino aro azul, para se destacar na superfície branca.
Foi com
esta pintura que os Lockheed PV-2C Harpoon se apresentaram durante quase todo o
tempo em que operaram em Angola e Moçambique, utilizados como aviões de apoio
táctico. Em 1973, um número muito reduzido de PV-2C que operavam em Angola foi
inteiramente pintado de verde-azeitona anti-radiação, com a insígnia de
dimensões reduzidas.
O primeiro PV-2 Harpoon (4619) aterrou em Luanda
no dia no dia 19 de Maio de 1960, ao qual se seguiram mais seis.
A Base Aérea N° 9 (BA9), Luanda, só se tornaria
operacional em Maio de 1961, altura em que estes aviões foram oficialmente
integrados na Esquadra 91. Para além das insígnias regulamentares, tinham
pintado no lado esquerdo da fuselagem, junto à cobertura da antena do radar, o
distintivo da Esquadra 91 (Imagem 6). Esta esquadra foi reforçada com mais sete Harpoon em
1962.
Em 1964 os PV-2 da Esquadra 91 começaram a fazer
destacamentos no Aeródromo-Base N° 3 (AB3), Negage, e no Aeródromo-Base N° 4
(AB4), Henrique de Carvalho, melhorando a capacidade de intervenção aérea na
região.
Em 1971, os nove Harpoon operacionais da Esquadra
91 foram transferidos para o AB4 e integrados na Esquadra 403 (Imagem 7). No mesmo ano
juntaram-se a estes aviões mais três, transferidos da Base Aérea N° 10 (BA10),
Beira, Moçambique. Entre meados de 1971 e Outubro de 1974 a frota da Esquadra
403 foi substancialmente reduzida de efectivos, com o abate ao efectivo de sete
aviões, uns por acidente, outros por dificuldades de manutenção.
Os restantes foram abatidos em 18 de Novembro de
1975, após a independência de Angola.
Os Lockheed PV-2C Harpoon foram também enviados
para Moçambique. Entre Fevereiro e Dezembro de 1962 foram colocados cinco Lockheed PV-2C Harpoon na BA10, Beira,
constituindo o efectivo da Esquadra 103 do Grupo Operacional 1001. Em Novembro
de 1962, com a saída dos C-47 Dakota, os PV-2 passaram a ocupar a Esquadra 101 (Imagem 8),
enquanto que a Esquadra 103 foi desactivada.
Os aviões ostentavam no lado esquerdo da
fuselagem, perto da cobertura da antena do radar, o distintivo da Esquadra 101.
Em 1963 e 1964 os Harpoon da BA10 participaram
nos exercícios “CAPEX”, em cooperação com as Marinhas da África do Sul,
Grã-Bretanha e França, voltando à sua actividade original de luta
anti-submarino.
Em Julho e Setembro de 1963 chegaram à Esquadra
101 mais dois PV-2C Harpoon.
O último PV-2 a ser colocado em Moçambique foi o
4610, que chegou à BA10 em 8 de Maio de 1965, para voltar a repor o efectivo de
seis aviões da Esquadra 101. A partir de final de 1965 os PV-2 da Esquadra 101
mantiveram um destacamento de dois aviões em Vila Cabral, onde executaram
missões de ataque ao solo e bombardeamento táctico.
Em 1966 a Esquadra 101 perde dois aviões,
acidentados na região do Niassa, no norte de Moçambique, ficando reduzida a
quatro unidades. Estes aviões desenvolveram grande actividade entre Abril e
Novembro de 1966, vigiando os navios de guerra britânicos, aquando do bloqueio
naval ao porto da Beira determinado pela ONU, motivado pela declaração
unilateral de independência da Rodésia (actual Zimbabwé), em finais de 1965.
Em fins de Setembro de 1971 os Harpoon
abandonaram Moçambique, sendo transferidos para Angola, três para Henrique de
Carvalho e um para Luanda.
Poucos
foram os aviões que, depois de terem combatido na II Guerra Mundial, se
mantiveram operacionais até 1974, ostentando durante 20 anos a insígnia da Cruz
de Cristo.
De forma muito resumida, a história dos Lockheed
PV-2C Harpoon foi a seguinte:
1. 4601
– Veio a voar dos Estados Unidos e aterrou na BA6 em 14 de Dezembro de 1953,
onde foi integrado na Esquadra 61. Em Maio de 1962 foi colocado na Esquadra 91
da BA9, Luanda. Ficou destruído num acidente ocorrido em Luanda no dia 21 de
Novembro de 1962;
2. 4602
– Chegou à BA6 no mesmo dia e nas mesmas condições que o anterior (idem). Foi
integrado na Esquadra 61 da BA6. Não foi deslocado para África. Foi abatido ao
efectivo da FAP em 16 de Abril de 1963 por razões desconhecidas;
3. 4603
– (idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Em Maio de 1960 foi colocado na
Esquadra 91 da BA9. Em 1971 foi transferido para o AB4 e colocado na Esquadra
403. Foi abatido ao efectivo em 18 de Novembro de 1975, aquando da
independência de Angola;
4. 4604
– Era da versão PV-2D. Veio a voar dos Estados Unidos e aterrou na BA6 no mesmo
dia dos anteriores. Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Sofreu adaptação para
transporte de VIPs. É colocado na BA10 em 1962, integrado na Esquadra 101. Em
22 de Agosto de 1964 sofreu um acidente ao aterrar na Beira, que não causou
vítimas. Não foi recuperado;
5. 4605
– (idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Foi transferido para a BA10, onde
aterrou em 10 de Abril de 1961, sendo o primeiro Harpoon a equipar a Esquadra
103, depois Esquadra 101. Em Setembro de 1972 foi transferido para a BA9 onde
foi despojado do armamento, tendo operado em missões de transporte. Foi abatido
em Novembro de 1975;
6. 4606
– Veio a voar dos Estados Unidos para a BA6, onde aterrou em 9 de Setembro de
1954 (idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Em Maio de 1962 foi
transferido para a Esquadra 91 da BA9 e, em 1971, para a Esquadra 103 do AB4.
Foi abatido ao efectivo da FAP em 9 de Outubro de 1974;
7. 4607
– Versão PV-2D. (idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Foi-lhe retirado o
armamento e transformado para transporte de VIPs. Em 1960 foi colocado na BA9 e
integrado na Esquadra 91. Em Junho de 1961 sofreu um acidente, sem causar
vítimas, mas ficou irrecuperável;
8. 4608
– (idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Não se dispõe de mais elementos
sobre o seu destino. Foi abatido em 8 de Junho de 1963;
9. 4609
– Situação igual ao anterior. Foi abatido ao efectivo da FAP em 29 de Março de
1963;
10. 4610 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Foi adaptado para missões de
fotografia aérea, sem prejuízo da capacidade de combate. Em Maio de 1965 foi
integrado na Esquadra 101 da BA10. Em 12 de Maio de 1966 efectuou uma aterragem
de emergência na região do Niassa sem provocar danos pessoais. Não foi
recuperado;
11. 4611 – (idem).
Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Integrado na Esquadra 101 da BA10 em 1962.
Ficou destruído num acidente, em 25 de Agosto de 1966 na região do Niassa;
12. 4612 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Em Maio de 1962 foi integrado na
Esquadra 91 da BA9. Sofreu um acidente em 8 de Novembro de 1963, com a
destruição total e a morte de nove tripulantes;
13. 4613 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Ficou muito danificado durante uma
aterragem em Lisboa, em 25 de Abril de 1956, tendo sido recuperado. Foi
transferido para a Esquadra 91 da BA9 em Maio de 1962. Acabou destruído num
acidente ocorrido em Luanda em 8 de Junho de 1968;
14. 4614 – Veio
a voar dos Estados Unidos e aterrou na BA6 em 23 de Março de 1955, sendo
integrado na Esquadra 61 (idem). Integrado na Esquadra 101 da BA10 em 1962.
Transferido para a Esquadra 403 do AB4 em 1972. Nesse ano, em 21 de Fevereiro,
acidentou-se no Cuito Cuanavale, tendo sido recuperado. Foi abatido em 9 de
Outubro de 1974;
15. 4615 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Não se dispõe de mais elementos
sobre o seu destino. Foi abatido ao efectivo em 7 de Setembro de 1960;
16. 4616 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Em 27 de Setembro de 1963 foi
integrado na Esquadra 101 da BA10. Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403
do AB4. Ficou destruído num acidente ocorrido no Luso em 15 de Julho de 1971;
17. 4617 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Em 1962 foi colocado na Esquadra
101 da BA10. No dia 5 de Fevereiro de 1963 ficou destruído num acidente na
região de Vila Pery, causando seis mortos e sete feridos graves;
18. 4618 –
(idem). Era da versão PV-2D. Foi colocado na Esquadra 61 da BA6. Não se dispõe
de mais elementos sobre o seu destino. Foi abatido ao efectivo em 8 de Junho de
1960 e vendido como sucata;
19. 4619 –
Chegou a Portugal em 8 de Outubro de 1956, a bordo de um porta-aviões
norte-americano (idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 19 de Maio de
1960 foi colocado na Esquadra 91 da BA9. Foi o primeiro Harpoon do efectivo da
Esquadra 91 a chegar a Angola. Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403 do
AB4. Foi abatido em 18 de Novembro de 1975, aquando da independência de Angola;
20. 4620 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 1960 foi colocado na Esquadra 91
da BA9. Ficou muito danificado num acidente ocorrido em 8 de Junho de 1961 no
Quitexe, provocando a morte de todos os ocupantes. Foi abatido em 10 de
Dezembro de 1962. Os destroços foram removidos para as OGMA, Alverca, onde foi
reconstruído e entregue ao Museu do Ar;
21. 4621 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 1960 foi colocado na Esquadra 91
da BA9. Sofreu um acidente em 9 de Fevereiro de 1961 em Malange, tendo sido
recuperado. Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403 do AB4. Foi abatido ao
efectivo em 14 de Junho de 1974;
22. 4622 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Não há notícias de ter operado no
Ultramar. Foi abatido em 17 de Fevereiro de 1967;
23. 4623 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 1960 foi colocado na Esquadra 91
da BA9. Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403 do AB4. Foi abatido em 18
de Novembro de 1975;
24. 4624 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 25 de Fevereiro de 1960, ao
efectuar uma aproximação nocturna ao Aeroporto de Lisboa ficou destruído num
acidente que provocou dois mortos e quatro feridos;
25. 4625 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Não são conhecidas outras
colocações. Foi abatido ao efectivo em 26 de Maio de 1964 e vendido como
sucata;
26. 4626 – (idem).
Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 1960 foi colocado na Esquadra 91 da BA9.
Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403 do AB4. Foi abatido em 18 de
Novembro de 1975;
27. 4627 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 1960 foi colocado na Esquadra 91
da BA9. Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403 do AB4. Foi abatido em 9 de
Outubro de 1974;
28. 4628 – Chegou
a Portugal em 9 de Janeiro de 1957, por via marítima (idem). Foi colocado na
Esquadra 62 da BA6. Em 26 de Setembro de 1963 foi colocado na Esquadra 91 da
BA9. Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403 do AB4. Foi abatido em 9 de
Outubro de 1974;
29. 4629 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Em 1960 foi colocado na Esquadra 91
da BA9. Em 1971 foi transferido para a Esquadra 403 do AB4. Foi abatido em 9 de
Outubro de 1974;
30. 4630 – Chegou
a Portugal em 8 de Maio de 1957, por via marítima (idem). Foi colocado na
Esquadra 62 da BA6. Foi integrado na Esquadra 101 da BA10 em Julho de 1963. Em
1972 foi transferido para a Esquadra 403 do AB4. Foi abatido em 9 de Outubro de
1974;
31. 4631 – (idem).
Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Foi abatido ao efectivo em 26 de Maio de
1964, ficando a servir de fonte de peças sobressalentes para os outros aviões
da frota;
32. 4632 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Destino exactamente igual ao
anterior;
33. 4633 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Foi abatido ao efectivo em 16 de
Agosto de 1960, ficando a servir de fonte de peças sobressalentes para os
outros aviões da frota;
34. 4634 –
(idem). Foi colocado na Esquadra 62 da BA6. Destino exactamente igual ao
anterior.
Como foi descrito atrás, o Lockheed PV-2C Harpoon
número 4620 faz hoje parte do Museu do Ar. É apontado como sendo o único
exemplar existente na Europa.
Fontes (segunda parte):
Imagem 5: Colecção Altimagem;
Texto e imagens 6, 7 e 8: "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000.
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