(continuação)
Imagem 5: Aviocar com pintura alusiva aos 50 anos da Esquadra 502 |
Quando da chegada dos Aviocar, a
Esquadra 32 ainda operava os Noratlas. Os pilotos, na sua maioria com grande
experiência em Noratlas, não simpatizaram com a nova máquina. Eram referidos
como “as aviõas” ou “os tupperwares”, devido à quantidade de componentes em
fibra de vidro.
Para além disto foram os
primeiros turbo-hélices da FAP, de operação mais exigente que os potentes
motores de pistão, o que necessitou de alguma adaptação.
Com o abate dos Noratlas e a
utilização dos sugestivos e avançados equipamentos de navegação e de voo por
instrumentos – dá-se ênfase ao Sistema Director de Voo, praticamente
desconhecido na FAP – acabaram por cativar o pessoal. Pilotos e mecânicos foram
sujeitos a intensos e sucessivos programas de instrução, ficando a conhecer
muito bem o avião, o que muito contribuiu para melhorar a sua operação.
Alguns pilotos obtiveram na CASA
a qualificação de piloto de provas (Performances Flight Testing).
Os primeiros anos de operação não
foram fáceis. Pouco experimentados, começaram com graves problemas nos motores
– rolamentos que gripavam, sistemas de controlo de combustível que se
descontrolavam, temperaturas excessivas, etc. e, devido à entrada de água da
chuva no interior do avião, os componentes electrónicos falhavam
constantemente. Para remediar estas anomalias, estabeleceu-se e cumpriu-se um
planeamento, segundo o qual todos os Aviocar foram reparados
na fábrica de Sevilha.
A situação foi progressivamente
melhorando até atingir níveis satisfatórios. Entretanto, as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), em Alverca, adquiriram capacidade para efectuar as grandes
inspecções gerais e, consequentemente, resolverem muitos dos problemas
técnicos.
Imagem 6: Casa C-212-100 ECM Aviocar (configurado para a Guerra Electrónica) |
Em 1975 os C-212 Aviocar números 6519, 6521, 6522, 6523 e 6524 foram colocados na Base Aérea N° 1 (BA1), Sintra, na Esquadra de Reconhecimento Fotográfico, para o que foram devidamente adaptados e equipados, inclusive com um sistema de navegação de grande precisão e piloto automático.
Outros foram colocados na
Esquadra 41 da Base Aérea N° 4 (BA4), Lajes, para missões de busca e salvamento
e transporte entre as ilhas do Arquipélago dos Açores.
O primeiro acidente ocorreu no
dia 19 de Novembro de 1976 com o Aviocar 6516 da BA3, do qual resultou a morte
dos tripulantes e a destruição do avião.
Durante o ano de 1976 e início de 1977, foram
recebidos quatro CASA C-212-100-B-2 Aviocar, adquiridos pela FAP no âmbito do
projecto APRT (Aeronave de Pesquisa de Recursos Terrestres), para o que foram
especificamente equipados. Foram colocados na Esquadra de Reconhecimento
Fotográfico da BA1.
A relação entre as matrículas da
FAP e os números de construção é a seguinte: 6521 (B2-1-56), 6522 (B2-2-57),
6523 (B2-3-61) e 6524 (B2-4-62).
Através de Despacho do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa de 3 de Maio de 1976, é criado o Destacamento Aéreo da Madeira (DAM), o qual foi activado no fim desse ano, com um Aviocar e respectiva tripulação e pessoal de manutenção, da BA4, que ficaram colocados no Aeroporto de Santa Catarina. A partir de 1993, o DAM e respectivas operações foi deslocado para o Aeroporto de Porto Santo. Na zona das instalações da NATO, em Porto Santo, foi construído um novo hangar para receber o DAM. Mais tarde, em 1994, a responsabilidade dos recursos humanos e logísticos existentes no Porto Santo, anteriormente nas mãos da NATO, passam a ser responsabilidade nacional, o que leva à criação do Destacamento da Força Aérea no Porto Santo.
Através de Despacho do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea Portuguesa de 3 de Maio de 1976, é criado o Destacamento Aéreo da Madeira (DAM), o qual foi activado no fim desse ano, com um Aviocar e respectiva tripulação e pessoal de manutenção, da BA4, que ficaram colocados no Aeroporto de Santa Catarina. A partir de 1993, o DAM e respectivas operações foi deslocado para o Aeroporto de Porto Santo. Na zona das instalações da NATO, em Porto Santo, foi construído um novo hangar para receber o DAM. Mais tarde, em 1994, a responsabilidade dos recursos humanos e logísticos existentes no Porto Santo, anteriormente nas mãos da NATO, passam a ser responsabilidade nacional, o que leva à criação do Destacamento da Força Aérea no Porto Santo.
Em 1977, os Aviocar 6501 e 6502 foram
equipados para missões de contra-medidas electrónicas (ECM), tendo em vista a
instrução de operadores de guerra electrónica (ver imagem 4). Depois de equipados, passaram a ser designados por Casa C-212-100 ECM Aviocar, tendo sido desactivados em 2004.
O 6503 foi equipado para instrução de navegação.
O 6503 foi equipado para instrução de navegação.
Em 5 de Julho de 1978 ocorreu o
segundo acidente com Aviocar, o número 6518 da BA4, provocando a morte dos
tripulantes e a destruição do avião.
Imagem 7: Emblema da Esquadra 401 (BA1), original |
Imagem 8: Emblema da Esquadra 401 (BA1), original |
Imagem 10: Emblema da Esquadra 401 (BA1 e BA6), Vigilância Marítima. |
Imagem 9: Emblema da Esquadra 401 (BA1 e BA6), definitivo. |
Em 1978, por força da remodelação levada a cabo na FAP, foi alterada a estrutura operacional:
- À BA1 foi atribuído o Grupo Operacional 12, ao qual foi atribuída a Esquadra 401, “Cientistas”, equipada com Aviocar, competindo-lhe as missões de reconhecimento fotográfico, vigilância marítima, guerra electrónica, levantamento aero-magnético e pesquisa de recursos naturais;
- Na BA3 ficou instalado o Grupo Operacional 31 com duas esquadras equipadas com Aviocar: a Esquadra 111, para instrução de tripulações e a Esquadra 502, de transporte táctico. A esta última são atribuídas missões de transportes gerais, lançamento de pára-quedistas e de carga, busca e salvamento e evacuação sanitária;
- Na BA4 foi criado o Grupo Operacional 41, com a Esquadra 503, equipada com Aviocar, com as mesmas funções da Esquadra 502.
A remodelação da FAP verificada
em 1993 provocou novas alterações significativas:
- A BA3 é extinta e entregue ao Exército Português. A Esquadra 111 é desactivada, a Esquadra 502, “Elefantes”, é transferida para a BA1, Sintra. Passou a ter como missão primária a execução de missões de transporte aéreo táctico e, como missão secundária, operações de busca e salvamento, evacuação sanitária, transporte aéreo geral, transporte de VIP e guerra electrónica, além da instrução de pilotos e navegadores. A Esquadra 502 manteve vários destacamentos, como o do Arquipélago da Madeira, desde 1976, e o de S. Tomé e Príncipe, activado em 27 de Julho de 1988. Mais tarde, com a chegada dos novos EADS C-295, a Esquadra passa a designar-se por Esquadra 401, “Cientistas”;
- A Esquadra 503 da BA4 foi desactivada, sendo os respectivos Aviocar integrados na Esquadra 711, na mesma Unidade, que também operava os helicópteros SA-330 Puma, tendo como missão primária as missões de busca e salvamento e de apoio humanitário.
Por esta altura, a numeração das
aeronaves da FAP foi alterada, cabendo aos CASA C-212-100 Aviocar a série 16501
a 16524.
Em 1994 são recebidos dois CASA
C-212-300 Aviocar. A sua aquisição teve em vista a extensão do Sistema de
Fiscalização e Controle das Actividades de Pesca (SIFICAP). Foram colocados na
Esquadra 401 da BA1.
Os C-212-300 Aviocar utilizavam
equipamentos que permitiam, no âmbito da vigilância marítima (VIMAR), controlar
navios na faina da pesca, detectar e analisar acções de poluição oceânica e
outras actividades ilícitas e efectuar medições da temperatura da superfície da
água para fins científicos e económicos.
Os C-212-300 apresentavam uma longa
cobertura da antena do radar no nariz, as
pontas das asas reviradas para cima, depósitos de combustível
suplementares instalados sob as asas, SLAR (Side Loocking Airborne Radar) com a
forma de tubos colocados lateralmente na fuselagem, entre o nariz e o trem de
aterragem e o conjunto estabilizador da cauda de maiores dimensões.
Globalmente, são ligeiramente maiores que os C-212-100. As performances também apresentam algumas diferenças, especialmente no que respeita ao peso máximo à descolagem, que é de 8.100 Kg, cerca de 1.500 Kg superior.
Globalmente, são ligeiramente maiores que os C-212-100. As performances também apresentam algumas diferenças, especialmente no que respeita ao peso máximo à descolagem, que é de 8.100 Kg, cerca de 1.500 Kg superior.
Receberam as matrículas da FAP segundo
o sistema em vigor desde 1993, cabendo-lhes os números 17201 e 17202,
correspondendo aos números de construção 459 e 460, respectivamente.
O 17201 esteve presente no 41°
Salon International de L’Aéronautique et de L’Espace de Le Bourguet, entre 11 e
18 de Julho de 1995, a pedido do Presidente da CASA, tornando-se assim no
primeiro avião da FAP presente naquela prestigiada exposição.
Em 1996 o Aviocar participou, no
âmbito da NATO, na Operation Support Airlift – Plano de Estabilização da
ex-Jugoslávia, ficando baseado em Nápoles, Itália.
Com a necessidade de substituição
dos velhos, mas robustos, Aviocar, a FAP decidiu adquirir aviões EADS CASA
C-295, cujo planeamento de colocação seria a Base Aérea N° 6 (BA6), Montijo, a
partir de Novembro de 2008, onde foi retomada a Esquadra 502, “Elefantes”.
Assim, em Maio de 2009, os
Aviocar e a respectiva Esquadra 401 da BA1 são transferidos para a Base Aérea N° 6 (BA6) com a
finalidade de preparar os futuros pilotos dos novos CASA e a transição para o
novo avião, sediado na BA6.
Em 25 de Novembro de 2009 é activado o Aeródromo de Manobra Nº 3 (AM3), no Porto Santo (ver Imagem 17).
Em 25 de Novembro de 2009 é activado o Aeródromo de Manobra Nº 3 (AM3), no Porto Santo (ver Imagem 17).
Imagem 16: Cortesia de digitalhangar.blogspot.pt/ |
Quanto às pinturas, os quatro
primeiros C-212-100 recebidos mantiveram a pintura usada pela Força Aérea
Espanhola, com o chamado camuflado do deserto, em tons de areia, cinzento e
verde-azeitona, com a parte inferior em azul claro. Passado algum tempo foram
uniformizados com os restantes Aviocar.
A pintura adoptada para os
Aviocar foi inteiramente em verde-azeitona anti-radiação. Apresentavam a Cruz
de Cristo, sobre círculo branco, no extra-dorso da asa esquerda, no intradorso
da asa direita e em ambos os lados da fuselagem, em tamanho reduzido. As cores
nacionais, sem escudo, estavam colocadas dentro de um rectângulo nos lados do
estabilizador vertical. Os números de matrícula encontravam-se a preto em ambas
as asas, alternando com a insígnia e também acima dos rectângulos com as cores
nacionais. Os aviões da Esquadra 502 apresentavam nos lados do estabilizador
vertical, sob a bandeira nacional, o elefante amarelo do seu distintivo original.
Devido à regulamentação das
pinturas das aeronaves da FAP, em vigor desde 1981, todos os Aviocar passaram
para a pintura camuflada em castanho (FS 30.219) e dois tons de verde (FS
34.079 e FS 34.102), com as superfícies inferiores a cinzento claro (FS 36.622)
e a cobertura da antena do radar em preto (FS 37.038). A junção do cinzento com
as outras cores é ondeada. As extremidades dos hélices possuem uma faixa
amarela (FS 33.538) com 10 cm de comprimento.
A Cruz de Cristo, sobre círculo
branco com 38 cm de diâmetro, está colocado nos lados da fuselagem. A bandeira
nacional, sem escudo, com 50 cm de comprimento, colocada em ambos os lados do
estabilizador vertical. Os números de matrícula encontravam-se acima da
bandeira nacional, em algarismos pretos com 15 cm de altura.
Os aviões da Esquadra 401
apresentavam sob as cores nacionais no estabilizador vertical o distintivo da
esquadra.
A partir de 2008, com a chegada
do Airbus Military C-295M, os Aviocar entraram em processo de “phase out”.
Em 5 de Novembro de 2010, 34 anos depois de dar início ao Destacamento Aéreo da Madeira (DAM), o Aviocar passa o testemunho da sua importante missão no Arquipélago da Madeira ao C-295.
Durante este período de 34 anos na Madeira, os Aviocar realizaram mais de 7.500 horas de voo, 3.300 das quais dedicadas a evacuações médicas, com o transporte de 3.500 doentes entre as ilhas do Arquipélago.
Imagem 17: Brasão do Aeródromo de Manobra Nº 3 (AM3), Porto Santo. |
Em 5 de Novembro de 2010, 34 anos depois de dar início ao Destacamento Aéreo da Madeira (DAM), o Aviocar passa o testemunho da sua importante missão no Arquipélago da Madeira ao C-295.
Durante este período de 34 anos na Madeira, os Aviocar realizaram mais de 7.500 horas de voo, 3.300 das quais dedicadas a evacuações médicas, com o transporte de 3.500 doentes entre as ilhas do Arquipélago.
Os Aviocar mantiveram-se na BA6
até à sua desactivação, em 6 de Dezembro de 2011. Para trás ficaram serviços relevantes ao longo de 37 anos de serviço e mais de 170.000 horas de voo.
Fontes (segunda parte):
- Imagens 5 e 13: © Carlos Pedro - Blog Altimagem;
- Imagem 6: Cortesia de Wikipedia, a enciclopédia livre;
- Imagens 7 a 10: Colecção Altimagem;
- Imagens 11, 12, 14 e 15: "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000;
- Imagem 16: Cortesia de Paulo Alegria - Blog Digital Hangar;
- Imagem 17: Cortesia de EMFA - Estado-Maior da Força Aérea;
- Texto: "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000; Revista “Mais Alto” N° 394, Novembro / Dezembro de 2011, Estado-Maior da Força Aérea, Alfragide; Cortesia de Blog Walkarounds-ccadf, texto de Rui Sousa e Madeira Spotters.
2 comentários:
Optimo artigo.
Apenas tenho a acrescentar que quanto aos aviões 6501 e 6502 embora pudessem levar os dois a configuração de Guerra Electrónica,apenas o faziam um de cada vez.
Um ano ficava um configurado e no ano a seguir o outro.
Geralmente paravam os dois em Agosto para fazer a troca.
O que não ficava configurado executava as missões "normais" da Esquadra.
Muito obrigado pelo seu comentário. É sempre motivante receber ajuda e "feedback" dos post's publicados. O seu comentário completa e valoriza o artigo sobre o Aviocar. Com os melhores cumprimentos!
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