Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
= António Gedeão, pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho ou, simplesmente, Rómulo de Carvalho, químico, professor, pedagogo, investigador de História da Ciência em Portugal, e poeta português (24 de Novembro de 1906 - 19 de Fevereiro de 1997) =