(continuação)
Imagem 3 |
(...Resumo histórico)
Um largo número de Harvard serviu noutros territórios da Comunidade Britânica (Commonwealth), incluindo na Nova Zelândia e Índia, integrados no Programa de Treino Aéreo da Comunidade. Outros foram entregues à USAAF.
Na Commonwealth Aircraft Corporation, Austrália, foi produzido um modelo derivado do Harvard, designado por CA-16 Wirraway. Durante a guerra foram utilizados em ataques aos japoneses na Malásia, Bornéu e Nova Guiné.
No período do pós-guerra, quando estava activo o Mutual Aid Programme (MAP), financiado pelos Estados Unidos, os Harvard Mk IIB foram distribuídos em quantidades significativas pela França, Itália e Turquia, enquanto que alguns aviões da Royal Canadian Air Force (RCAF) foram cedidos à Índia.
Em 1950 a RCAF assumiu a instrução de pilotos de diversos países da NATO. Ficou então estabelecido que seria necessário uma quantidade relativamente grande de aviões de instrução.
A Canadian Car and Foundry Co. montou uma linha de produção em Fort William e iniciou a construção do modelo Harvard Mk IV, equivalente ao T-6J Texan da USAF. Em 1951 foram construídos 550 aviões deste modelo. Para além dos destinados à RCAF, os Harvard Mk 4 foram também adquiridos pelos Estados Unidos e pela República Federal da Alemanha, que os utilizou na instrução de pilotos. Começaram a ser retirados de serviço em meados da década de sessenta.
A Itália utilizou vários modelos de North-American T-6 Texan, SNJ Texan e Harvard na instrução de pilotos, assim como Portugal e Espanha.
Praticamente todos os países da América Latina utilizaram estes extraordinários aviões.
Em meados da década de oitenta, a Força Aérea da República da África do Sul (SAAF) ainda mantinha cerca de 50 aviões Harvard na instrução de pilotos, depois de, em 1961, ter transferido alguns para a Força Aérea Portuguesa (FAP).
Muitos dos aviões T-6 e Harvard espalhados pelo mundo já tinham servido de forma exemplar nas Forças Aliadas na II Guerra Mundial.
A qualidade destes aviões de instrução e treino justifica a enorme procura que tiveram no mercado de “segunda mão”.
A Suécia adquiriu 257 T-6, que receberam a designação local de SK16. Em 1946 a Holanda adquiriu 200 Harvard à RAF e 40 à RCAF, que equiparam a Força Aérea Holandesa das Índias Orientais e que, em 1949, foram entregues à Indonésia, aquando da sua independência.
Os T-6 e os Harvard, embora concebidos para instrução e treino de pilotos, também foram utilizados em missões armadas. Já foi referida a sua actuação na Guerra da Coreia. Os franceses utilizaram-nos no Norte de África, na segunda metade dos anos cinquenta.
A Força Aérea Francesa (AAF) aumentou a sua frota, adquirindo 150 aviões T-6G em Março de 1956 e outros 150 no mês seguinte. No fim de 1958, dos 700 aviões ligeiros envolvidos nas operações militares que decorriam na Argélia, pelo menos 250 eram North-American T-6G, Harvard Mk II e Harvard Mk 4, que foram substituídos por North-American T-28 Trojan e por uma pequena quantidade de Douglas A-1 Skyraider. Depois de consumada a independência da Argélia em 1962, os T-6G remanescentes foram utilizados em missões de treino até 1966. A AAF cedeu, em 1961, cerca de meia centena de T-6G a Portugal, preparados para operações militares.
Em Julho de 1960, a Bélgica utilizou os Texan e os Harvard da Escola de Aviação de Kamina, no Congo Belga, em acções militares contra os independentistas da República do Congo. Alguns destes aviões acabaram por ser utilizados pela Força Aérea do Katanga.
A Força Aérea Portuguesa foi, provavelmente, o último utilizador de T-6 e Harvard em operações militares. Utilizou-os em África entre 1961 e 1974.
Em 1985, quando o desenho do North-American NA-16 celebrava os 50 anos, ainda existia um pequeno número de Texan e Harvard em serviço militar. Este facto constitui o mais adequado testemunho da robustez e versatilidade destes magníficos aviões, por certo os mais célebres aviões de treino do mundo.
Percurso em Portugal:
a. Aeronáutica Militar
Os primeiros aviões North-American T-6 foram adquiridos em 1947, compreendendo 28 aviões das versões AT-6A, AT-6B e AT-6C, destinados à Aeronáutica Militar (AM). Não há uniformidade de opinião entre os historiadores no que respeita à data de recepção destes 28 aviões. Uns referem o início de 1947, outros referem a recepção de 10 em 1947, 10 em 1948, 4 em 1949 e 4 em 1950.
O mesmo acontece com os números de série e números de construção. Por exemplo, ao North-American AT-6A que foi matriculado pela AM com o número 705, dois autores atribuem-lhe o mesmo número de construção (77-4505), mas divergem no número de série: 41-217 para um e 41-476 para outro.
Dado este “desacerto” e enquanto não se conseguir melhor informação, opta-se pelo que se apresenta melhor documentada. Assim, em 1947 a AM recebeu dez North-American AT-6A, atribuindo-lhes a numeração abaixo indicada, correspondendo aos números de construção (n/c) entre parêntesis: 700 (78-3658), 701 e 702 (desconhecidos), 703 (77-4545), 704 (78-7133), 705 (77-4505), 706 (78-6404), 707 (77-4176), 708 (78-7079) e 709 (78-6084). Todos estes aviões foram colocados na Base Aérea N° 1 (BA1), Sintra, destinados à instrução complementar de pilotagem, substituindo os Miles Master.
Em 1948 chegaram nove North-American AT-6A e um AT-6B. Continuaram a série de matrículas da AM: 710 (desconhecido), 711 (78-6611), 712 a 716 (desconhecidos), 717 (AT-6B com n/c 84-7503), 718 e 719 (desconhecidos). Os números 710, 712 e 716 foram colocados na Esquadrilha ZE da Base Aérea N° 2, Ota, e os restantes na BA1.
Em 1949 a AM recebeu mais quatro AT-6A: 720 a 723 (desconhecidos). Inicialmente foram todos colocados na BA1.
Em 1950 recebeu mais dois AT-6A (números 724 e 725) e dois AT-6C (números 726 e 727). Desconhecem-se os respectivos números de construção. Foram colocados na BA1.
Existem referências que, em 1948, os AT-6A com os números 719, 720, 721 e 722 estavam a ser operados pela Esquadrilha de Caça N° 1 da Base Aérea N° 3 (BA3), Tancos.
Quase todos estes aviões foram pintados de acordo com o padrão então em uso para os aviões de instrução, com a fuselagem em azul escuro, as asas e o conjunto estabilizador da cauda em amarelo. A Cruz de Cristo, sobre círculo branco, estava colocada em ambas as faces das asas. A bandeira nacional, com escudo, nos lados do estabilizador vertical. O número de matrícula nos lados da fuselagem, a branco.
Entre 1949 e 1950, a pintura dos AT-6A foi alterada. Conforme iam sendo submetidos às grandes revisões de manutenção nas Oficinas Gerais de material Aeronáutico (OGMA), em Alverca, alteravam a pintura e reapareciam inteiramente em alumínio, com a parte superior da fuselagem em frente à cabina em preto anti-reflexo. Mantiveram as insígnias em ambos os lados das asas, as cores nacionais, sem escudo, no estabilizador vertical, assim como as matrículas nos lados da fuselagem, agora em algarismos pretos.
Em 1951 a AM adoptou o sistema de numeração de quatro dígitos, recebendo os AT-6 a nova numeração, de 1601 a 1626, não sendo considerados os 710 e 720, anteriormente destruídos em acidentes e já abatidos. Assim, do 700 ao 709 passaram para 1601 a 1610. Do 711 ao 719 para 1611 a 1619 e do 721 a 727 para 1620 a 1626.
Mantiveram a pintura em alumínio mas passaram a apresentar a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, no intradorso da asa direita e nos lados da fuselagem. As cores nacionais, sem escudo, foram colocadas em formato rectangular nos lados do estabilizador vertical. O número de matrícula foi colocado, a preto, em ambos os lados das asas, alternando com a insígnia e também no estabilizador vertical, sobre os rectângulos das cores nacionais. Passaram igualmente a ostentar grandes faixas amarelas a meio das asas e na fuselagem, entre a cabina e o conjunto estabilizador da cauda.
Entre Outubro e Novembro de 1951, ao abrigo do Mutual Defense and Assistance Pact (MDAP), a AM recebeu dos Estados Unidos, por via marítima, vinte aviões do modelo North-American T-6G Texan.
Tinham os seguintes números de matrícula e números de construção, entre parêntesis: 1627 (188-013), 1628 (188-029), 1629 (188-022), 1630 (188-044), 1631 (188-016), 1632 (188-026), 1633 (188-002), 1634 (188-020), 1635 (188-040), 1636 (188-043), 1637 (188-057), 1638 (188-041), 1639 (188-060), 1640 (188-055), 1641 (188-015), 1642 (188-009), 1643 (188-056), 1644 (188-037), 1645 (188-038) e 1646 (188-059).
Os números 1627 a 1633 foram inicialmente destinados à BA2. Os restantes foram entregues à BA1.
Os T-6G Texan chegaram inteiramente pintados em amarelo, com o painel em frente da cabina em preto anti-reflexo. Foram aplicadas as insígnias e as matrículas nacionais de acordo com as normas em vigor.
Estavam especialmente equipados para a instrução de voo por instrumentos, com rádio-bússula (ADF), equipamento de rádio-comunicações de VHF, instrumentos de bordo melhorados e capota para simulação de voo sem visibilidade no lugar de trás, onde se instalava o instruendo. A roda de cauda era parcialmente comandada pelos pedais e bloqueada por acção da alavanca de comandos. A última secção da cobertura da cabina, móvel nos modelos anteriores, apresentou-se fixa, para alojar a capota do voo sem visibilidade.
Para além desta pintura amarela, distinguiam-se dos anteriores pela inexistência do mastro da antena do equipamento de comunicações de HF, colocado lateralmente e à frente da cabina e pela existência da cobertura da antena loop da rádio-bússula, atrás da cabina.
Curiosamente, os aviões eram conhecidos na gíria do pessoal pelos Harvard, sem qualquer justificação, pois que na AM só existiam North-American AT-6A, AT-6B e AT-6C e North-American T-6G Texan. Os primeiros Harvard só chegaram em 1956. Talvez tenha tido influência o facto da maioria dos aviões de que a AM então dispunha ser de origem britânica e estes designarem os T-6 por Harvard.
Os North-American AT-6 e T-6G existentes foram integrados na FAP em 1952.
(continua)
Fontes (segunda parte):
Imagem 3: FAP / AHFA - Força Aérea Portuguesa / Arquivo Histórico da Força Aérea;
Imagens 4 e 5: Cortesia de Paulo Alegria - Blog DIGITAL HANGAR;
Texto: "Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX" - Adelino Cardoso - Edição ESSENCIAL, Lisboa, 2000.
Sem comentários:
Enviar um comentário